Há um tempo atrás, eu fui chamada para atender uma paciente com doença renal crônica avançada cuja a principal queixa durante sua internação no hospital era “vontade de cuidar dos dentes”.

Ao questionamento direcionado, eu perguntei o que exatamente ela gostaria de fazer nos dentes já que ela estava quase de alta do hospital e não havia nenhuma alteração bucal com caráter de urgência para ser resolvido naquela ocasião intrahospitalar. A resposta foi que durante toda a vida ela teve um sonho de cuidar dos dentes mas que as prioridades eram sempre os filhos, trabalho, netos e doença, até que agora, no fim da vida, ela gostaria de realizar este sonho de cuidar dos dentes. 

Eu iniciei um tratamento periodontal (raspagem de tártaro dos dentes) já que ela precisava mesmo, mas para que eu pudesse ajudá-la de alguma forma mais efetiva, naquele momento no qual ela já estava praticamente de alta hospitalar, eu acionei a assistente social para que juntas, nós pudéssemos direcionar a paciente a um atendimento apropriado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou em Serviço de Atenção Domiciliar. 

Como resolução da história, a assistente social fez uma articulação com a UBS de referência para garantir que a paciente tivesse o atendimento apropriado na sua região após a alta no hospital.

Poucas semanas depois, ela reinternou no hospital e solicitou novamente minha avaliação. Só que este pedido de avaliação na verdade era para me agradecer o encaminhamento ao serviço odontológico da UBS de referência que resolveu os problemas bucais com muita rapidez e eficiência.

Nesta última internação ela faleceu, infelizmente, mas eu tenho a certeza de que fizemos o possível para realizar o sonho da vida dela. 

Essa história é para todos entenderem que na teoria e na prática o melhor jeito de se trabalhar é em equipe. E que dentista com assistente social pode fazer atos incríveis aos pacientes quando atuam em conjunto!